O futuro da Tunísia, onde há dois anos teve início a Primavera Árabe, é uma incógnita. O assassinato na quarta-feira do líder da oposição, o advogado de direitos humanos de esquerda Chokri Belaid, foi o estopim para os confrontos entre manifestantes e policiais em Gafsa, no centro do país – e Tunísia afora.
Em Tunis um policial perdeu a vida.
Sedes do Ennahda, a legenda islâmica a dirigir a coalizão no poder, foram incendiadas.
Nesta sexta-feira 8, dia do funeral de Belaid, uma greve geral organizada pela UGTT, a central sindical, seria a primeira desde 1978.
Em uníssono, em Tunis os manifestantes repetiam: “O povo exige a queda do regime”, o slogan usado em todos os países árabes que depuseram seus ditadores.
O povo quer saber quem matou Belaid, da Frente Popular, legenda de esquerda próxima da UGTT. O governo condenou o assassinato, e, no entanto, ninguém foi acusado. Segundo rumores, o homem que atirou em Belaid antes de pular na garupa de uma moto faria parte das “ligas de proteção da revolução”, grupos violentos a serviço do Ennahda.
No entanto, a tensão remonta à vitória do Ennahda, partido que pretende, segundo seus detratores, reislamizar a Tunísia. E, de fato, são ambíguos os elos do Ennahda com os salafitas radicais, que querem impor a sharia (código de leis do islamismo) no país.
Detalhe: a Tunísia é o mais secular entre os países árabes desde os anos 1950, quando o presidente era Habib Bourquiba, o primeiro após a independência da França.
Para arrefecer a ira do povo, o premier Hamadi Jebali, do Ennahda, anunciou a formação de um governo de tecnocratas apolíticos até as eleições de junho de 2013.
No entanto, o presidente do Ennahda, Rached Gannouchi, alega que Jebali simplesmente fez uma proposta e ela já foi rejeitada pela maioria dos integrantes do partido. O motivo? A crise é política e tem de ser resolvida por políticos, não tecnocratas.
Diante das desavenças no seio do Ennahda e dos crescentes protestos, as duas legendas seculares poderão desfazer a aliança com o partido islâmico para, é claro, terem chances nas próximas eleições.
A ironia das ironias é que a Revolução de Jasmim, que em janeiro de 2011 derrubou o ditador Zine-al-Abidine Ben Ali e realizou eleições livres em outubro do mesmo ano, foi o berço e exemplo para todas as subsequentes insurreições no mundo Árabe. Apesar do conflito entre o Ennahda e as legendas esquerdistas e manifestantes seculares, a Tunísia parecia estável quando comparada à Síria.
E o quadro tunisino também parecia mais estável do que em países como a Líbia e o Egito.
De fato, a diferença entre a governista Irmandade Muçulmana no Egito e o Ennahda, ambas agremiações islâmicas, é que os atuais líderes da Tunísia não cimentaram uma sólida aliança com o exército como o fez o presidente egípcio Mohamed Morsi. Ademais, o exército egípcio, espinha dorsal do regime daquele país, é muito superior ao tunisino.
O Ennahda não administra o país como deve.
Dois anos atrás, Mohamed Bouazizi, de 26 anos, se autoimolou quando seu carrinho de frutas foi confiscado pelas autoridades tunisinas. Vários dos atuais jovens e menos jovens a protestar nas ruas, em um país onde o nível de educação é elevado, continuam em busca de empregos.
O Ennahda tem de formar um governo de união nacional e antecipar as eleições. É a única solução para que não haja outra revolução.
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