A data de 28 de fevereiro, anunciada na segunda-feira 11 pelo papa Bento XVI como o dia em que renunciará ao cargo, não foi estabelecida de forma aleatória. A eleição para substituí-lo precisa ter início em, no máximo, 20 dias após a vacância do papado, como determina a Constituição do Vaticano, o que obriga os cardeais eleitores a se reunirem, e tomarem uma decisão, ainda em março. Assim, antes da Páscoa (que em 2013 ocorre em 31 de março), quando os cristãos celebram a ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja Católica terá um novo líder.
As regras para a realização do conclave, a eleição do novo papa, foram estabelecidas e atualizadas na Constituição Apostólica, assinada por João Paulo II. Qualquer homem católico batizado pode ser escolhido como papa, mas apenas cardeais foram eleitos desde 1378. Participam da votação somente os cardeais com menos de 80 anos. Hoje há 117 eleitores aptos, 50 nomeados por João Paulo II e 67 por Bento XVI. A maioria (61) é da Europa. Há ainda 19 latino-americanos, 14 de Estados Unidos e Canadá, 11 africanos, 11 asiáticos e um da Oceania.
O processo eleitoral é coordenado por uma congregação formada pelo cardeal camerlengo, o administrador da propriedade e receita da Santa Sé, e por três cardeais assistentes. Desde 2007, o camerlengo é o italiano Tarcisio Bertone, ex-arcebispo de Gênova. Os assistentes são definidos por sorteio e têm “mandatos” de apenas três dias, sendo posteriormente substituídos após um novo sorteio. Essa comissão tem poder apenas para cuidar da eleição e tratar de assuntos urgentes, mas não pode tomar decisões de atribuição exclusiva do papa.
A Constituição Apostólica é uma admissão de que os cardeais não são santos. Há uma série de mecanismos e restrições para garantir a transparência do conclave e evitar fraudes ou influências indevidas sobre a votação.
Durante o conclave, os cardeais são obrigados a trajar a batina preta filetada e a faixa vermelha, com o solidéu, cruz peitoral e anel e devem-se manter em completo isolamento, não podendo trocar correspondência epistolar, telefônica ou por outros meios de comunicação com pessoas estranhas ao âmbito da eleição. Todas as pessoas que estarão no Vaticano durante a eleição, como os responsáveis por alimentação e limpeza, ou mesmo religiosos de nível inferior, estão proibidas de conversar com os cardeais.
As votações são administradas por nove cardeais também sorteados. Três são os “escrutinadores”, que contam os votos, três são os infirmarii, responsáveis por recolher os votos dos cardeais eventualmente doentes, e três são revisores da votação. Para o papa ser eleito, ele precisa de dois terços dos votos. No caso do sucessor de Bento XVI, serão necessários 78 votos (dois terços de 117). É na primeira votação que os cardeais descobrem quão favorito é cada um dos candidatos. “Até a primeira votação, você não sabe quem realmente tem força e quem não tem”, disse ao jornal norte-americano Chicago Tribune o arcebispo de Chicago, Francis George.
Caso não seja obtida a maioria de dois terços, os cardeais passam por um período de três dias nos quais devem realizar duas votações, uma pela manhã e outra à tarde, em busca de um consenso. Se não tiverem sucesso, os cardeais podem realizar mais três séries de sete votações, entremeadas por curtos períodos de “oração, de livre colóquio entre os votantes e de uma breve exortação espiritual”. Se ainda assim não houver consenso, realiza-se uma votação entre os dois cardeais mais votados.
A cada votação, as cédulas e as anotações dos cardeais são queimadas. Se o voto não tiver sucesso, a chaminé da Capela Sistina emitirá uma fumaça preta. Quando o nome do novo papa for definido, a chaminé soltará uma fumaça branca. Momentos depois, o protodiácono do Vaticano, atualmente o francês Jean-Louis Tauran, aparece na varanda central da Basílica de São Pedro para informar, com a frase habemus papam, que um novo papa foi escolhido e aceitou a nomeação. Após o anúncio, o novo papa é apresentado ao povo e dá a primeira bênção.
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