Pressa em "furar" concorrência levou mídia dos EUA a cometer erros graves
Em meio à cobertura dos ataques em Boston, jornalistas divulgam informações sem conferir a veracidade delas e criam situações embaraçosas para TVs e jornais. Redes sociais, como o Twitter, mostram ser pouco confiáveis.
O estudante Salah Barhoun, 17 anos, não acreditou ao ver a manchete do New York Post, na quinta-feira passada (18/04). Numa foto tirada à beira da pista da Maratona de Boston, ele e seu treinador estampavam a capa do tabloide. A manchete dizia: "Homens da mochila", seguida do aviso: "Federais procuram estes dois".
Tudo partiu das especulações de investigadores amadores do fórum de internet Reddit, que detectaram os dois numa foto do local das explosões. Em seguida, a foto foi rapidamente publicada pelo tabloide nova-iorquino, sem qualquer tipo de verificação.
O jornal também cometeu outros erros: publicou que havia 12 mortos – foram três – e apontou como suspeito um cidadão saudita que não tinha nada a ver com os ataques.
Interferência negativa das redes sociais
Na opinião do crítico de mídia do The New York Times Joe Concha, as redes sociais como o Twitter e o Facebook mais atrapalharam do que ajudaram o noticiário sobre o atentado. "Agora, não existe apenas a pressão da concorrência entre as emissoras, mas também da concorrência com o Twitter: ele induz os meios de comunicação a se precipitarem."
Na opinião do crítico de mídia do The New York Times Joe Concha, as redes sociais como o Twitter e o Facebook mais atrapalharam do que ajudaram o noticiário sobre o atentado. "Agora, não existe apenas a pressão da concorrência entre as emissoras, mas também da concorrência com o Twitter: ele induz os meios de comunicação a se precipitarem."
Logo em seguida aos atentados, a FoxNews, mais bem-sucedido canal de notícias nos Estados Unidos, "pagou um mico" ao divulgar que uma terceira explosão teria ocorrido na Biblioteca Presidencial John F. Kennedy, em Dorchester. Como se constatou em seguida, a suposta explosão era apenas um pequeno incêndio.
Situação pior foi a da emissora de televisão CNN, concorrente da FoxNews, e a da agência de notícias Associated Press (AP). O experiente repórter da CNN John King anunciou na última quarta-feira, orgulhoso: "Houve uma prisão. Meu informante na polícia de Boston me disse: 'Nós o pegamos'". E King prosseguiu, dando detalhes sobre um vídeo, no qual supostamente "se vê um homem de pele escura depositar uma mochila no local da segunda explosão".
A FoxNews e outros veículos de imprensa passaram a trabalhar com essa informação. Em seguida, a notícia da AP de que o preso já estava a caminho do tribunal levou centenas de jornalistas a correrem para a porta da corte de Justiça. Só para, uma hora e meia depois, ver na CNN o mesmo John King negando – também com exclusividade – a sua suposta informação exclusiva: "Há importantes progressos, mas nenhuma prisão. Quem falar em prisão está colocando o carro na frente dos bois".
Velocidade versus credibilidade
A credibilidade, tanto da CNN quanto da AP, ficou abalada. Outros veículos de mídia tradicionais também publicaram falsas especulações tiradas do Twitter e boatos da internet.
A credibilidade, tanto da CNN quanto da AP, ficou abalada. Outros veículos de mídia tradicionais também publicaram falsas especulações tiradas do Twitter e boatos da internet.
Para Erik Wemple, especialista em mídia do jornal Washington Post, a imprensa deveria retornar a suas boas e velhas virtudes, esquecidas em meio ao caos: "Verificar os fatos e, em caso de dúvida, colocar a precisão na frente da rapidez. Talvez tenha chegado o momento de os meios de comunicação dizerem: vamos aguardar a confirmação oficial através de uma coletiva de imprensa ou de um comunicado".
Apesar de a imagem da CNN ter sofrido abalos na última semana, seu novo chefe, Jeff Zucker, parece ter motivos para estar satisfeito com os índices de audiência, que aumentaram 200% com a cobertura do atentado em Boston. Quase 3 milhões de telespectadores sintonizaram a emissora todos os dias – seus maiores números desde o início da Guerra do Iraque, há dez anos.
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