Familiares das vítimas da Kiss protestam durante audiência pública
Presidente de associação diz que livro do padre Lauro fez todos reviverem a tragédia
A audiência pública sobre a tragédia na boate Kiss
organizada pela Defensoria Pública do Rio Grande do Sul neste sábado em
Santa Maria foi marcada por momentos de indignação e protestos. Quando
o novo comandante do Corpo de Bombeiros do município, major Marcelo
Maia, iniciou o discurso, familiares e amigos das vítimas demonstraram
indignação e proferiram palavras ofensivas.
"As pessoas acham que existe algo a mais para ser feito
então questionam o porquê de muitas coisas. Os pais ainda culpam muito
os bombeiros pelo fato da ocorrência não ter sido atendida", explicou
Adherbal Alves Ferreira, presidente da Associação de Familiares de
Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).
Ferreira precisou pegar o microfone e interferir para
acalmar os ânimos no Colégio Marista Santa Maria, no centro da cidade.
Segundo ele, a reunião com representantes de entidades não contou com um
número expressivo de pessoas e a presença de políticos na mesa
- deputados estaduais Jorge Pozzobom (PSDB) e Fabiano Pereira (PT) e
vereadora Sandra Rebelato (PP) - causou descontentamento nos familiares.
"Fui convidado para falar sobre a associação, mas não consegui fazer a
explanação como queria por falta de quórum. Havia pedido para falar por
último, mas muito antes as pessoas começaram a ir embora", disse.
Para o presidente da associação, o livro Kiss: uma Porta para o Céu,
lançado recentemente pelo padre Lauro Trevisan aflorou novamente o
sofrimento dos familiares. "Esse livro esculhambou a cabeça das pessoas e
causou um grande mal na cidade. Foi feito todo um trabalho psicológico e
estava indo tudo bem, a audiência pública poderia ter ocorrido
numa boa, mas aí veio esse livro e eles reviveram todo o momento",
salientou.
Ontem, a associação encaminhou um ofício para o delegado
responsável pelas investigações da tragédia para que convoque o padre
Lauro para prestar esclarecimentos sobre o conteúdo do livro. Um dos
trechos que causou indignação aos familiares é o que relata que duas ou
três vítimas haviam sido encontradas vivas no caminhão frigorífico que
transportava os corpos ao
Ginásio de Esportes. Depois de ser notificado
extrajudicialmente pela associação, que pediu a retirada de circulação
do livro, o padre Lauro divulgou uma nota dizendo que já retirou da
publicação os trechos que causaram indignação. "O
livro causou transtornos e tudo voltou à estaca zero", lamentou
Ferreira.
O padre Lauro não foi localizado para falar a respeito.
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