Gre-Nal com torcida única
Postado por Juremir
No meu imaginário, Gre-Nal é um dia de festa.
Na minha memória afetiva, revejo meu primeiro Gre-Nal.
No Beira-Rio.
No começo dos anos 1980.
Uma imensa massa vermelha num domingo ensolorado.
E uma enorme massa azul.
Era como um encontro de águas.
Elas não se misturavam.
Nem se separavam.
Quanto haveria de azuis?
Não sei.
Na imagem que habita o meu imaginário eram uns 40%.
Depois, meu primeiro Gre-Nal no Olímpico.
Uma enorme massa azul.
E uma grande mancha vermelha.
Fui repórter esportivo de 1986 a 1990.
Não sei quantros Gre-Nais cobri.
A mesma imagem me povoa.
Estádios quase divididos.
Sei que não deve ter sido exatamente assim.
Mas é assim que ficou em mim.
Chegamos, agora, ao primeiro Gre-Nal, que eu saiba, de torcida única. Se houve outro, não me lembro, não vi, não me afetou. Agora me toca.
Que triste!
Involuímos.
Estamos dando atestado de falta de civilidade.
Somos selvagens? Não podemos suportar o outro, o nosso vizinho, o nosso amigo, o nosso cunhado, o nosso irmão, o nosso colega, o que veste vermelho, o que veste azul, o que torce pelo nosso adversário?
Que triste!
A violência marca o seu gol. Violência lamentável da Brigada Militar no episódio recente na Arena. Violência contínua de integrantes de torcidas organizadas em sucessivos episódios. A tão recente história da bela Arena do Grêmio tem sido marcada por conflitos na Geral. Por quê?
A Brigada Militar tem de aproveitar a situação para sair dos estádios.
Os clubes que se responsabilizem.
O que acontecerá? A paz? Ou uma tragédia? E se houver um batalha campal o que se dirá? De quem se cobrará? Estamos diante de um impasse.
O Rio Grande do Sul sempre tão dividido chega, enfim, à unidade. Nada mais de mistura, de tolerância, de brincadeira, de contato com o outro.
Quando voltaremos à prática da degola?
No passado, tivemos as grandes degolas de Rio Negro e Boi Preto?
Teremos as grandes degolas da Arena e do Beira-Rio?
Ou não pelo fato de que colorados e gremistas nunca mais se encontrarão no mesmo estádio em tardes ensoloradas de domingos felizes?
Os violentos estão vencendo: ainda terão os estádios só para eles.
Triste violência da polícia, triste violência de torcedores, triste despraparo de policiais, triste situação em que, por muito tempo, direções deram cobertura para torcidas com espírito de gangues. Sim, gangues azuis, gangues vermelhas, gangues de todas as cores e com um mesmo espírito: o gosto pela violência, pelas brigas, pelas hierarquias, um pertencimento baseado na exclusão do outro, uma identidade fundada sobre o fanatismo e sobre os mais primitivos instintos. É hora de botar a bola no chão e testar.
Primeiro tirar a BM dos estádios.
Em seguida, deixar as coisas acontecerem.
Será que teremos de excluir as organizadas?
Ou aceitar a volta de degola quem sabe praticada entre torcedores de um mesmo clube? Ou, livres da violência militar, todos torcerão em paz?
Motoristas de táxi de Porto Alegre procuram, em dias de jogos, não usar camisas de cor vermelha ou azul. Temem agressões. Torcedores com uma ervilha no lugar do cérebro excitam-se quebrando e brigando. Policiais que deixam o cérebro em casa excitam-se batendo. A Porto Alegre dos belos domingos é uma cidade sitiada. Gre-Nal com torcida única é uma derrota coletiva. Nem vou falar de outro assunto que triunfa nos estádios: o racismo. O futebol tem deixado de ser um jogo para ser uma luta de clãs.
Eu não pertenço a nenhum clã.
Não sou de ninguém.
Digo a qualquer um: não me representa!
Quero Gre-Nal de estádio dividido entre azul e vermelho.
Essa é a única vitória que me deslumbra.
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