Fonte:Adriano Wilkson e Felipe PereiraDo UOL, em São Paulo
Alegando que não estava no poder para atender aos caprichos da FIFA, o presidente da Colômbia, Belisario Betancur, disse um retumbante não para a Copa do Mundo. O país fora escolhido para sediar o torneio de 1986, mas os planos precisaram ser alterados depois de um pronunciamento em cadeia nacional de televisão que continha o trecho: "não se havia respeitado a regra básica, a questão de honra de que o Mundial devia servir à Colômbia e não a Colômbia servir à multinacional do futebol", declarou o presidente.
Com este discurso ácido Betancur se recusou a organizar a Copa. O motivo alegado em novembro de 1982, ano que o novo presidente assumiu o cargo, foi a delicada situação econômica do país. O professor Álvaro Zerda, da Universidad Nacional da Colômbia, diz que a decisão foi acertada porque o país tinha problemas com a dívida externa e déficit externo, ou seja, saia mais dinheiro que entrava.
"Uma das primeiras medidas de Betancur quando assumiu foi desvalorizar o peso em 50% para tentar aumentar as exportações e diminuir este déficit comercial". Zerda conta que algumas pessoas reclamaram da desistência em sediar a Copa, principalmente o setor de transporte marítimo, mas a promessa de empregar o dinheiro que iria para organização do Mundial em áreas sociais convenceu a população.
O torneio foi visto como um capricho pelas pessoas e as exigências da FIFA um exagero. A entidade pedia 10 estádios com capacidade para 40 mil pessoas e dois que comportassem 80 mil espectadores. O professor de Economia ressalta que ainda seria necessário investir em aeroportos e comunicação.
A decisão em recusar a Copa de 1986 era esperada porque fez parte da plataforma de campanha de Betancur. Zerda conta também que a violência preocupava os colombianos. O país saia da fase dos cartéis da maconha, no Norte, e assistia a formação dos cartéis da cocaína. Combater a criminalidade e investimento social foram apontados como prioridades e a Copa uma extravagância.
Mesmo com o discurso que agradou à população, o professor afirmou que nada se materializou. O dinheiro não foi empregado em áreas sociais e a violência ganhou corpo. Tanto que ainda no governo Betancur o Palácio de Justiça, em Bogotá, foi invadido pelo M-19, grupo guerrilheiro.
Pablo Escobar foi apontado como financiador da ação que ocorreu em 6 de novembro de 1985 e resultou na morte de 98 pessoas. Entre as vítimas estavam 11 juízes. Como o discurso para negar a Copa não virou prática a Colômbia afundou numa crise de violência.
Nesta altura a FIFA estava com outras preocupações. A entidade tomou outros caminhos e passou a procurar uma nova sede para o Mundial. O México foi o escolhido aproveitando a estrutura de 1970.
Mesmo a copa não tendo ocorrido, na Colômbia em 1986, os recursos que seriam destinado pelo governo colombiano para o evento, jamais foram aplicado em educação,hospitais,estradas, segurança,etc.Na verdade a Colômbia ainda sofre com a violência de uma sociedade muito desigual, só para citar um exemplo, nas comemorações da classificação para as quartas de final, contra o Brasil, dezenas de pessoas foram assassinadas naquela noite de festejos,fato que levou o governo colombiano a impor a lei seca, para o próximo dia 04 de julho quando ocorre o jogo de quartas de final contra o Brasil.
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